O Crescimento da Vida em Condomínio no Brasil e o Papel Crucial do Síndico
O cenário habitacional brasileiro tem passado por transformações significativas nas últimas décadas, com um aumento notável no número de pessoas optando por residir em condomínios. De acordo com dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente 22% da população do país, o que equivale a mais de 69 milhões de brasileiros, vive atualmente em condomínios. Essa expressiva parcela da população demonstra uma tendência crescente em direção a esse modelo de moradia, impulsionada por diversos fatores, como a busca por segurança, a oferta de áreas de lazer compartilhadas e a praticidade na manutenção.
Diante desse contexto de expansão da vida em condomínio, a figura do síndico emerge como um elemento central e estratégico na gestão e organização desses espaços. O síndico, seja ele um morador eleito ou um profissional contratado, desempenha um papel fundamental na administração do condomínio, sendo responsável por garantir o bom funcionamento das instalações, a segurança dos moradores, a manutenção das áreas comuns e a resolução de conflitos. A complexidade das tarefas e responsabilidades atribuídas ao síndico exige habilidades de liderança, comunicação, negociação e conhecimento em diversas áreas, como administração, finanças e legislação.
Conflitos entre Moradores: O Principal Desafio na Gestão Condominial
Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Síndicos Profissionais (ABRASSP) em 2024 revelou um dado alarmante e revelador sobre a realidade dos condomínios no Brasil: 63% dos problemas cotidianos enfrentados nesses espaços estão relacionados a conflitos entre moradores, e não a questões estruturais ou financeiras. Essa estatística surpreendente demonstra que a gestão condominial vai muito além da simples administração de recursos e da manutenção predial. Ela exige, cada vez mais, a capacidade de lidar com as complexas relações interpessoais que se desenvolvem no ambiente condominial, promovendo a harmonia, o respeito e a colaboração entre os moradores.
Os conflitos entre moradores podem surgir por diversos motivos, desde divergências sobre o uso das áreas comuns e o cumprimento das regras do condomínio até desentendimentos pessoais e questões de vizinhança. A falta de comunicação, a intolerância, a falta de empatia e a dificuldade em resolver os problemas de forma construtiva são alguns dos fatores que podem contribuir para a escalada dos conflitos e o comprometimento do bem-estar dos moradores.
A Gestão Humanizada como Solução para os Conflitos e a Valorização do Imóvel
Diante desse cenário desafiador, a advogada e síndica profissional Vanessa Munis defende a importância de uma gestão condominial humanizada, que coloque as pessoas no centro das decisões e priorize o diálogo, a escuta e a busca por soluções conjuntas. Para ela, o dado revelado pela pesquisa da ABRASSP demonstra que a gestão condominial não pode ser tratada apenas como uma questão administrativa, mas sim como um processo que envolve a compreensão das necessidades, expectativas e emoções dos moradores.
“Se o condomínio é feito de pessoas, a gestão também precisa ser feita para pessoas. O olhar sistêmico nos ajuda a entender que cada conflito individual reflete o equilíbrio – ou o desequilíbrio – do coletivo”, afirma Vanessa Munis. A especialista ressalta que a gestão humanizada não se limita a resolver conflitos pontuais, mas sim a criar um ambiente de convivência mais saudável e harmonioso, onde os moradores se sintam acolhidos, respeitados e valorizados.
Uma das ferramentas que Vanessa Munis considera indispensáveis para a gestão humanizada é a Comunicação Não Violenta (CNV), uma abordagem que visa promover a comunicação empática e eficaz, baseada na observação, na identificação dos sentimentos e necessidades, e na formulação de pedidos claros e respeitosos. A CNV pode ser utilizada em diversas situações do dia a dia do condomínio, desde as assembleias até as conversas informais entre os moradores, contribuindo para a redução das tensões e a construção de soluções conjuntas.
“Nas assembleias, vejo diariamente como a escuta empática reduz tensões. Muitas vezes, o morador não quer apenas ser atendido, mas ouvido. Quando acolhemos as necessidades sem julgamento, conseguimos construir soluções conjuntas e mais sustentáveis”, explica Vanessa Munis. A especialista destaca que a escuta ativa e a empatia são fundamentais para compreender as diferentes perspectivas e necessidades dos moradores, evitando que os conflitos se agravem e promovendo a busca por soluções que atendam aos interesses de todos.
Impacto Econômico da Gestão Humanizada: Valorização Patrimonial e Redução da Inadimplência
Além do impacto social positivo, a gestão humanizada também pode gerar reflexos econômicos significativos para o condomínio. Dados do Secovi-SP (Sindicato da Habitação de São Paulo) indicam que imóveis em condomínios com boa administração podem se valorizar até 20% acima da média do mercado. Essa valorização patrimonial é resultado da combinação de diversos fatores, como a segurança, a manutenção, a organização e a harmonia do ambiente condominial.
“Quando o ambiente é harmonioso, o condomínio se torna mais seguro, agradável e confiável. Isso gera valorização patrimonial, porque as pessoas querem viver em lugares assim”, explica Vanessa Munis. A especialista ressalta que a gestão humanizada contribui para a criação de um ambiente onde os moradores se sentem satisfeitos e orgulhosos de viver, o que aumenta o interesse de potenciais compradores e inquilinos e, consequentemente, valoriza os imóveis.
Outro benefício econômico da gestão humanizada é a redução da inadimplência. Quando os moradores se sentem parte de uma comunidade, onde são ouvidos, respeitados e valorizados, eles tendem a se sentir mais comprometidos com o pagamento das taxas condominiais. Além disso, a gestão humanizada pode facilitar a negociação de dívidas e a busca por soluções alternativas para os moradores que enfrentam dificuldades financeiras, evitando que a inadimplência se torne um problema crônico para o condomínio.
Em resumo, a gestão humanizada de condomínios é um investimento que traz benefícios tanto para os moradores, que passam a viver em um ambiente mais agradável e harmonioso, quanto para o condomínio, que se torna mais valorizado e sustentável. Ao priorizar o diálogo, a escuta, a empatia e a busca por soluções conjuntas, o síndico pode transformar o condomínio em um verdadeiro lar para todos os moradores.
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